segunda-feira, 1 de março de 2010

Frio e Rígida




Dada à rigidez, ela não encontrava companheiro. Isto não era ruim, havia o frio para cobri-la quando, à noite, ela sentisse falta de alguém. Frio logo se tornara o seu parceiro.

Como boa namorada que era logo teria de reservar espaços na sua casa para a chegada do mais novo amante. Ao pé da cama, um par de chinelos esculpidos no piso, roupão com a inicial F bordada em azul. Pra esperá-lo, banhos gelados e nudez em pleno inverno.

Ocorre que o tempo propiciador das núpcias passou, e o calor da nova estação lembrou-a de que as compressas e o ar condicionado não a livrariam do triste reconhecer-se viva, e ser de calor. Mas amava-o e havia decidido: iria à Sibéria.

Lá se rendeu como jamais, ou como sempre havia desejado, embora ela não contasse com o fato de que a morte sacramentasse a união.

Congelada, concubina.

Só?

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